segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008


Há muito tempo que não te escrevo, que não escrevo, que não me escrevo.
Ficam-me todas as palavras a bailar na língua mas não sai um único som.
Uma única linha, lembro-me do lodo ao sol... que seca.
Sei lá porque me lembrei do lodo agora!
Nem um único som destes meus lábios que só dizem o teu nome baixinho, num murmúrio, durante o dia, enquanto trabalho, enquanto falo com os outros, enquanto estou calado, enquanto durmo até.
O teu nome, sempre o teu nome, como uma prece, dito baixinho, tão baixo que só o meu coração sabe que te chamo.
E descobri que não sei gritar, não sei gritar uma dor, não sei gritar os gritos que me andam presos na garganta, e fecho os olhos e vejo os teus olhos secos, secos de dores engolidas, e também os meus olhos secam.
E eu, eu já não te escrevo, já não me (d)escrevo há tanto tempo, e seco, como o lodo, sim, o lodo é um bom exemplo.
O meu peito que já não arde, não dói, não pede, não reclama, não nada, não tudo, só aceita, e já não escrevo porque só sei escrever com alma.
E tu sabes, eu sei, não trago a alma comigo.